Relendo pela milésima vez a Insustentável Leveza do Ser, volto a citar Kundera. Logo no começo Milan discute a diferença entre o peso e a leveza, apontando que essa dualidade é a mais contraditória e ambígua de todas as contradições. (Enquanto escrevo travo os dentes. Acho que estou começando a ter bruxismo).
Em suma, a aparente contradição se justifica pelo fato do peso, que representa o fardo, o sacrifício físico, é o que conecta o ser humano à terra, ao real, às vicissitudes, e consequentemente às realizações vitais.Já a leveza, é a ausência do fardo, a liberdade, a capacidade de volitar, de ser imaterial, e consequentemente as coisas que o homem produz perde a importância. Existir ou não existir não faz diferença.
E quem quer nunca ter existo? Pior do que nunca ter existido é não ser notado. Não queremos a leveza. Como diria Michael: Ninguém quer ser imortal.
Me lembro de outro livro, Admirável Mundo Novo, em que O Selvagem reclama o direito de sentir, me lembro vagamente dessa estória, não posso citar com detalhes. Entretanto, me recordo bem que ele recusa a droga utilizada por todos nessa distopia, a soma. O Selvagem exige o feio, o sofrimento, a dor, o escroto, o imperfeito. Acho que agora entendo melhor as pessoas e, principalmente, essa juventude.
A gente já assistiu tudo: o belo, a guerra, a luta, a omissão, hippies, comunas, ditadores, punks, lambada, geeks, a busca pela leveza, o descaso pelo peso. Todas as buscas no afã de se fazer mais feliz.
Encontramos, entretanto, no peso a sustentabilidade da nossa condição. Só abraçando o peso,o kitsch, o sujo, o marginal que se consegue ser humano, que se consegue uma felicidade física.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ou seria no Livro dos Espíritos, não me lembro, em um dos dois, existe um capitulo que chama: A felicidade não é desse mundo (se não me engano isso está na Bíblia, acho até que foi Jesus quem disse, enfim). Pode até ser, mas quem quer ser feliz aqui mesmo? Eu quero o fardo, quero o kistch. Porque essa felicidade que oferecem e que andam buscando é mais leve que eu e pode se perder aí, volitando no ar.
P.S: Dá pra não amar o Kundera?
Gabriela Rosa
segunda-feira, 6 de julho de 2009